Polo têxtil
dribla a crise
FORÇA: Mesmo
com o câmbio desfavorável, produtores do Agreste conseguem aumentar vendas
investindo no mercado interno
Antes
vistos como uma potencial ameaça, os produtos importados, sobretudo os asiáticos,
com destaque para os chineses, ficaram menos competitivos no Polo Têxtil do
Agreste neste início de ano. Segundo o Moda Center Santa Cruz, ainda é cedo
para mensurar o recuo, mas o condomínio, que é o maior centro atacadista de
confecções do País, assegura o aumento recente da procura por itens nacionais.
O Polo de
Caruaru, voltado sobretudo ao varejo, também sente a mudança. A única operação
100% chinesa, entre mais de 300, fechou as portas recentemente. O que não quer
dizer que outras não comercializem produtos da China, observa o superintendente,
Henrique Camello. “Já sentimos diminuição das peças chinesas nas vitrines, embora
ainda discreta”, diz ele. Além disso, comenta, “famílias inteiras estão vindo
de mais longe para tentar economizar”. O deslocamento tem garantido o volume de
venda dos lojistas num cenário de desaquecimento. O tíquete médio das famílias passa
de R$ 700, “o que no Polo é um bocado de peça”, observa o superintendente.
A Rota do
Mar, destaque brasileiro em surfe e street wear, voltou a ser procurada por
grandes magazines, a exemplo de Riachuelo, Yamada (PA) e Tesoura de Ouro (GO),
conta o presidente, Arnaldo Xavier. Há dez anos, a empresa não comercializa com
varejistas de grande porte, apostando no sucesso de lojas próprias e
representantes. A Rota tem agendado reuniões para avaliar as possibilidades. Quanto
à matéria-prima, Xavier lembra que grande parte é nacional, então não há
grandes preocupações. A malha, largamente comercializada, vem, por exemplo, de
Santa Catarina, interior de São Paulo, Paraíba.
“Vínhamos
tendo uma ameaça de produtos importados, mas eles agora ficaram menos
competitivos, nos beneficiando. A procura pelos nacionais aumentou”, comenta o
síndico do Moda Center, Allan Carneiro. O cenário melhora quando se leva em
conta o aumento dos custos de produção no País. De acordo com Carneiro, muitos
lojistas têm segurado preços para não perder vendas e competitividade. O síndico
aponta ainda a maior demanda dos sacoleiros em busca de renda extra. “Em época
de crise, cresce o número de pequenos atacadistas”, comemora.
A importação
de vestuário, em janeiro e fevereiro, teve queda de 6,5% em relação à mesma época
de 2014. Mas o resultado, na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Têxtil
e de Confecção (Abit), está mais relacionado ao fraco desempenho do varejo do
que ao câmbio. “Estamos falando de um período em que as compras foram feitas há
algum tempo. O impacto só será sentido daqui alguns meses, caso o patamar do dólar
continue da maneira como está”, observa o coordenador da área internacional da
Abit, Renato Jardim. Mas ele acrescenta que, no último mês, tem-se confirmado
um movimento de tendência pela procura de fornecedores nacionais. “Eu não diria
que vai haver uma substituição de 100%, mas está-se tentando buscar
alternativas”, frisa. Para 2015, a expectativa da Abit é de queda de 2% na
produção e estabilidade nas importações.
CABO
VERDE
A
desvalorização cambial é mais uma porta que pode ajudar a colocar em prática o
projeto de exportação de mercadorias para Cabo Verde, na África. No dia 5 de
junho terá início o voo que ligará Recife à Cidade da Praia, pela companhia
TACV. Fortaleza (CE), que já conta com o voo direto para a cidade africana, é
hoje um grande concorrente do Polo de Confecções. Ontem Moda Center, AD Diper e
o cônsul da República de Cabo Verde no Recife, Ricardo Galdino, reuniram-se em Santa
Cruz para acertar o projeto que visa assegurar hospedagem, transporte, segurança,
atendimento e apoio local aos africanos interessados em fazer negócios no Polo
de Confecções.
Fonte: Jornal
do Commercio – Recife, 02 de abril de 2015
(Raíssa
Ebrahim – raissa@jc.com.br)